sábado, 23 de fevereiro de 2008


agora só não me quero esquecer das conclusões a que cheguei hoje..
não acho necessário dissertar sobre isso!
porque são tão abstractas
e não quero que percam a sua essência
de recém-nascidas.
há coisas tão singulares 
como a flor amor-perfeito
que não tem plural
porque seria: amores-imperfeitos..
porque tudo o que é perfeito é único!
e eu não compreendi que já sou uno
e que há coisas que só o tempo resolve!
isto não devia ser abstracto..
isto não devia ser sistematizado em matemáticas..
isto devia ter sido aprendido no ventre
em vez de aparecer na sombra!
apesar de tudo, 
vou continuar a assistir,
ao espectáculo de marionetas sem fios
da vida incontrolável que quero controlar..
metam-me na cabeça que não sou deus!
porque esse já morreu três vezes..
ou duas porque numa não chegou a nascer..
ou quatro porque também eu o apunhalei!
metam-me na cabeça que sou verde,
nesta vida que nem sempre é cor de rosa
como nós a tentamos pintar!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

passei a linha do suficiente


passei a linha do suficiente!
porque às vezes é preciso mais uma dose
e tirar a mão do colo
para erguê-la ao céu.
porque às vezes é preciso deslocar o centro
e saltar entre os limites abismais.
porque nem sempre se regressa pela mesma rua
quando nos perdemos nas noites curadas a álcool.
porque o lado negro está demasiado perto do branco
e este contraste agora não me deixa adormecer.
porque ainda há uma música que me vira do avesso
e que me faz lembrar os olhos que um dia eu bloqueei.
é por tudo isto que me declaro andrógino de emoções.
na tentativa de não interferir no espectáculo
que o homem da pandeireta me mostra todos os dias.
é por isto que peço mais uma vida
para fazer tudo igual o que fiz até hoje.
porque se tiver de me arrepender
pelo menos que seja por algo que fiz,
porque o que ficou por fazer
fica sempre na memória
como uma cicatriz do "eu quase que fiz isto um dia".
agora que já descansei
é hora de ser luz e desventrar o nevoeiro.
porque afinal não estou sozinho
e vou-me levantar já
antes que volte a estar.

foto: terreiro de leiria. novembro de 2005: nesta altura pensava que só existia a escola, o terreiro e pouco mais, em leiria.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

irmão gémeo


é espantoso como a vida tem sempre uma face nova
e pronta a revelar-se..
não pensei que fosse possível que este músculo tão pequeno
aprendesse novas formas de pulsar..
não pensei que fosse possível que esta mente
pudesse suportar com tantas fotografias
para mais tarde recordar!
a vida tem mais surpresas que o natal
porque neste caso não há como espreitar num furinho
na tentativa de diminuir a ânsia.
agora só resta mesmo escolher os passos que se dão para o abismo
de olhos fechados
e com um sorriso sempre pronto nos lábios
para sofrer as consequências depois.
porque é bom deitarmo-nos na cama que fizemos!
mas tu continuas igual a mim,
meu irmão gémeo,
mas a pensar num futuro tão diferente daquele que eu planeei.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

tenho um milagre para fazer


tenho um milagre para fazer,
porque o tempo não o faz por mim..
quero deixar de interferir tanto,
para não ter de esconder o que eu processo dos outros
e não ficarem no mesmo ponto de aplicação que eu..
é triste esta realidade,
mas é só para mim.
e mais ninguém precisa de saber.
ainda me vale esta máscara
que ri que nem uma vaca!
e só espero que não caia fora do campo de coordenadas que eu conheço..
a culpa é toda da decisão passada,
acontecimentos que se encadearam
e que resultam em sentimentos andróginos.
não percebes que planeei um futuro diferente para nós?
porque neste mundo não foi feito para mim..
este mundo é tão teu que só lá consigo tocar de vez em quando,
e o toque é demasiado doloroso..
tu enganaste-me..
mas a culpa foi minha.
tu enganas-me a toda a hora!
mas a culpa é toda minha..

domingo, 3 de fevereiro de 2008

esperar pelo fim



quando tiver que esperar pelo fim
quero sentir que fui útil,
pelo menos um dia,
uma hora,
um momento.
mesmo que os outros
não tenham a consciência exacta
e contemporânea disso.
nesse momento 
quero saber que fui caminho
ou pelo menos um sinal que o indica.
mas não me importo de saber
que fui nevoeiro a vida inteira,
excepto um momento em que o sol espreitou
e mostrei um caminho alternativo,
útil.
então,
o fim pode chegar pela porta da frente.

3+4=30


usei o 7 da maneira mais imperfeita que me podia calhar.
o número da perfeição mostrou-me onde não é perfeito.
uma casa decimal.
a soma,
do 3 e do 4,
dos géneros,
do "eu" e do "tu",
não foi 7,0.
foi um valor imperfeitamente aproximado.
dias antes,
o 0 deixou o esquerdo
e foi o meu lado direito,
eu: o número 3.
o 0 à esquerda foi quase perfeito
ao passar à minha direita.
30 é o número quase perfeito.
mais que o 7.
ainda bem que há algo mais que o 4,
por enquanto.

(segundo a numerologia, entre outras coisas, o 3 é o número masculino, o 4 o feminino e a soma dos dois é 7, o número perfeito.
e este é possivelmente a coisa mais ridícula q escreve até hoje. mas prometi que metia cá tudo.)

tenho saudades


tenho saudades,
ao passar os olhos pela paisagem
que me é apresentada
no debruçar da minha janela.
tenho saudade de mim no tempo, 
e não no espaço.
tenho saudades de ti
como elemento natural, 
o quinto, 
o que faltava,
que nas árvores diz ao vento
o nosso romance 
de água e fogo.
tenho saudades da noite.
e à noite tenho saudades
de mim,
de ti, 
de todos.
tenho saudades de toda a gente, 
a toda a hora.
tenho saudades da pessoa
que não está longe,
que está à minha frente
a toda a hora.
tenho saudades no momento.
não é depois!
eu já tenho saudades de um acontecimento 
no momento em que acontece.
tenho saudades de fazer o que me apetece
sem ter medo de sentir saudades depois.
prefiro então não fazer nada
e ter só as saudades que já tinha.
o tempo é uma realidade má.
preferia a sua inexistência.
tenho saudades de olhar para o relógio
e não me preocupar com isso.

tenho medo


tenho medo
que chegue o dia
em que eu esteja a falar
e ninguém esteja a ouvir.
tenho medo 
que me faltem as palavras simples
e a maneira mais fácil
de me fazer entender.
tenho medo 
que os (meus) sentidos
tenham um só sentido
que não o convencional.
espero pela noite
em que as pessoas se libertem 
da carne e da matéria
e que sejam grãos de pó
da mesma estrela.
mas tenho medo da espera.