segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

feitos do mesmo


se me sentes com o coração
eu sinto-te com os intestinos,
e pessoalmente, com o coração também.
as partes visíveis dos teus olhos
misturam-se com o espaço que rodeia a tua cabeça.
e na tua boca entra um navio comigo lá dentro,
e eu dou voltas, começando pela cabeça..
e eu rodopio com tanto vento que lá está dentro
que quase que saio pela nariz, ou por uma orelha..
mas desço! e tudo é oco
e vermelho e por vezes cinzento,
com aranhas e madeira
e um balde que talvez tenha sido um regador
mas a ponta partiu-se, e portanto agora é só um balde
igual a tantos outros.
chego à unha do dedo grande de um pé,
e dou meia volta e saio ao nível do meio corpo.
(...)
mas cá não está tudo igual,
porque trago comigo bocados do que te preenche
e sinto-me doente porque fechei os olhos..
tive de os fechar pelo escuro encadeante e incandescente
que envolve o mundo que é só nosso,
porque mais ninguém pertence a ele
e ele não pertence a mais ninguém.
e de repente sinto-te como a fricção da areia que eu gosto,
2 vezes por dia numa cadeira azul
e um cubo às cores eléctrico que me filma
enquanto não sei de ti, nem te penso..
e quando penso, não te sinto..
não sei de ti, mas sei que te vejo amanhã outra vez,
como uma maçã verde que não simboliza o pecado porque não é vermelha,
mas é ácida nas gengivas e na ponta da língua.
e borras-me como a tinta de uma esferográfica
que me ofereceram num evento cultural!
e se o que te envolve me enoja,
eu enojo-me ainda mais,
com olhos esbugalhados com medo permanente
e dedos esqueléticos que só servem para escrever.
mas o nojo que sinto em mim de mim
não é só o físico mesmo com fluídos..
mas também a hipótese de que sejamos feitos do mesmo,
e que as aranhas me consumam a madeira,
sem que o balde tenha a função de regador
para as afastar com água,
e sem que o vermelho reine totalmente sobre o cinzento que se evapora e preenche o espaço.
e se formos?
então não penso mais nisso!
não me importa e nada muda,
só se confirma
e eu compreendo ou pelo menos tento.
mesmo carregando nos botões sem função do comando
sem que a tua cabeça desapareça do cubo mágico nº2.
e eu engulo mais laranja de uma ampola
para que os papéis escritos e para escrever
fiquem sob escuta por parte do mole da minha cabeça.
e até quando o pijama me roça
e eu roço com as unhas nas borbulhas do pescoço,
eu me lembro que a tua cara tem a beleza de um trevo de quatro folhas,
que não existe.
mas é belo e não é verde,
mas se fosse verde existia,
ou então o contrário:
se existisse seria verde?
mas não existe como tu não teres cabeça
e andas com um pescoço cortado que já não sangra,
como um coto,
mas tens cabelo na mesma,
e ouves e falas mais do que ouves,
e não cheiras e vês menos do que ouves.
essa tentativa frustada de arco-íris
não combina nada com a manhã límpida e apetecida,
porque arco-íris só há um,
e se fosses tu, o outro já não era preciso para nada,
e porque só há arco-íris quando chove e o sol está presente.
portanto dou-te pouca importância!
apesar de seres a coisa que talvez dê mais importância a seguir ao meu umbigo..
mas é o suificiente para escrever e dormir sem sonhar
e acordar numa manhã fria e sem sol,
e pedir mais uma só para me resolver!
[2005]

6 comentários:

Sara C. Rodrigues disse...

Tal como eu digo... Arte gráfica! =)

sim... Somos todos iguais por dentro... Todos temos aranhas que consomem a madeira. Essas aranhas são os nossos medos, receios, segredos, angustias e... podia continuar e continuar.

Todos sentimos com o coração, com o intestino e muito raramente com a cabeça.

Todos somos preenchidos pelo escuro encadeante e incandescente...

Mas, por outro lado, também, por vezes, existe uma tonalidade clara que nos preenche de harmonia, que mata as aranhas destruidoras, transbordando o balde, que foi regador, com água... Renovando-o, e ando-lhe a oportunidade de realizar a sua verdadeira função.

Beijinhos

espektrum disse...

"todos sentimos com o coração, com o intestino e muito raramente com a cabeça."

eu acho q a maior parte sente com a cabeça.
e isso é um problema.
e é triste.
e etc..

Anónimo disse...

Mas nem sempre se sente com a cabeça (e até há quem tenha duas... mas esqueçe lá isso... ando tão cansada que faço piadas da treta!)

Por exemplo, é a cabeça que nos indica o que é a dor porque pelo o que entendo o sistema nervoso central coordena tais sensações mas é a alma e o teu espirito que armazena a dor, qualquer que ela seja. Quando estamos chateados, a tua alma fica "mirrada".

E as vezes a dor psicológica transforma-se em dor fisíca.

Ando a ler tanto que me faz mal.

Enfim.

Amigo quando te doer algo, deita-te e fecha os olhos. Isso passará num instante.

A mim apenas me doi a carteira! :X

mariana, a miserável disse...

..




lovers and fighters..

Sara C. Rodrigues disse...

Se sentissem com a cabeça a maior parte das vezes, então pensariam duas vezes antes de magoar os outros e talvez compreendessem o porquê/a razão de determinadas atitudes... E aí talvez criticassem menos... E talvez fossem menos frustrados... E por aí adiante...

O coração é impulsivo é quase como que o nosso Ego...
E por ser uma impulsão deve ser racionalizada, antes de sr realizada... Pois caso contrário corremos o risco de nos magoarmos a nós próprios e aos outros. Ou por outro lado pormos em risco a oportunidade de agir com espontaneidade e com vida...

E que tal sentirmos com o coração e com a cabeça?
Sermos espontâneos e correctos.

=)

Beijinhos

Anónimo disse...

a limpar o nariz!!!!!